Mais uma obra-prima de Alexander Sokurov, que faz pela França e pelo Louvre, com este filme, o que fez pela Rússia e pelo Hermitage com o “Arca russa”. Mais propriamente, “Francofonia” é um ensaio, uma meditação muito particular do diretor sobre como a Arte e a História se entrelaçam e como o Homem lida com ambas. Os grandes museus, expõe Sokurov, tornam-se símbolo das cidades onde se situam e ajudam a construir o sentido de nacionalidade, embora contenham peças de todas as civilizações passadas. Esses museus (e o Louvre é o museu emblemático por excelência) tornam-se os depositários da Arte e da História, da Civilização…da vida.

A primeira imagem é uma foto de Tolstoi, já envelhecido, reclinado, olhando para a câmera, com uma de suas filhas sentadas ao seu lado. Há também foto do Tchekhov. Por que a primeira divagação de Sokurov é sobre os dois autores russos? Pode-se pensar que isso foi arbitrário de sua parte. Acontece que a Rússia é, como a França, um dos poucos países em que a literatura ajuda a definir a identidade nacional. Tolstoi e Tchekhov contribuem a dar o sentido de nacionalidade para os russos, assim como o Louvre e seus tesouros tornam a França mais francesa. Os dois autores, assim, servem para equiparar no filme a literatura à arte.

Esporadicamente, o diretor aparece dialogando por Skype com o capitão~de um navio que carrega o conteúdo de um museu e enfrenta uma tempestade em alto-mar. Bela parábola sobre a fragilidade da civilização: o que torna o ser humano superior aos outros animais é facilmente perecível; o que traz beleza e torna a vida suportável pode ser destruído com grande facilidade.