Novo dramalhão do Almodóvar, um diretor que eu já desistira de acompanhar. Este filme, porém, é soberbo. São inúmeras as referencias culturais (Alice Munro, Patricia Highsmith e Homero são referências abertas…mas notei também alusões a Hitchcock – vários de seus filmes -, Bernard Herrmann, Debussy e Tolstoi (algumas cenas remetem a Anna Karienina).
Há grande riqueza estética e psicológica. Esteticamente, são marcantes as cenas no trem: dentro do vagão, há o uso das cores e das linhas retas e a beleza de Adriana Ugarte; fora, há a neve, as árvores e um cervo carregado de simbologia. As cenas na cozinha da casa do marido de Julieta, onde a janela olha para o mar, são também marcantes visualmente e, como as do trem, carregadas de simbolismo. A água, aliás, é um tema recorrente no filme.
No plano psicológico, este é um filme sobre a culpa, o ciúme e também sobre o ciúme levando as pessoas a cometerem atos ou tomarem decisões que levam à culpa. Ao contrário do filme de Jia Zhangke, As Montanhas se Separam, em Julieta a solidão dos personagens parece ser voluntária.
A denúncia moral do filme, coerente o tempo inteiro, fica explicitada na última cena: infelizmente, o ser humano só aprende a perdoar depois da perda e do sofrimento. Que triste que seja assim, parece dizer Almodóvar, já que a capacidade de perdoar – ou de não guardar mágoas – poderia trazer felicidade e nos poupar, justamente, da perda e do sofrimento.
Frase da heroína: “Ya no podía con mi alma”. Existirá solidão maior do que essa ? Um belíssimo filme.
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